Mudança na relação com a Crefisa pode ser positiva para o Palmeiras

Acabou o que muitos chamavam de “cheque em branco” para a diretoria alviverde. E isso não é tão ruim quanto pode parecer

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Cesar Greco / Palmeiras

O Palmeiras perde com o aperto do fisco à Crefisa. Não há dúvidas disso. Se antes o risco para contratações era zero, agora passa a ter peso bastante significativo. Mas, no conjunto da obra, a mudança na relação da Crefisa pode acabar sendo boa para o clube.

Para quem não acompanhou o noticiário nos últimos dias, a Crefisa foi notificada pela Receita Federal por não pagar a quantia devida de impostos diante dos investimentos realizados no Palmeiras. Além do patrocínio master, que foi renovado em 2018 para R$ 78 milhões de reais, a Crefisa também já injetou cerca de R$ 130 milhões para ajudar o clube a contratar atletas desde que chegou à Barra Funda. Essa segunda forma de aporte era registrada na receita como “despesas” e, sobre elas, tanto o lucro quanto os impostos eram muito baixos. Se o colombiano Borja, contratado por R$ 33 milhões no início da temporada passada, fosse revendido pelo mesmo valor, o clube devolveria a quantia à Crefisa e ficaria por isso mesmo. Se o contrato do atacante fosse encerrado sem negociação, a Crefisa sequer cobraria o clube. Era uma forma de empréstimo – e a Receita quer receber por isso.

Um destaque importante é que, ao contrário do que se especula, a Crefisa não lucra diretamente — e nem poderia — com a negociação de jogadores.

A partir de agora, a Crefisa passa a cobrar pelo investimento realizado junto ao clube para quaisquer contratações. Isso porque, segundo o entendimento da Receita, a prática deve ser contabilizada como empréstimo mesmo, sobre o qual incidem mais lucros e também, evidentemente, mais impostos. Se o mesmo Borja não for vendido até o fim do seu contrato com o Palmeiras, o clube deve mesmo assim devolver integralmente o valor à empresa.

Ainda assim, no entanto, a mudança forçada pelo fisco pode acabar tendo saldo positivo para o clube.

Primeiro porque as condições impostas pela Crefisa continuam sendo mais do que especiais: juros mínimos, absurdamente abaixo dos 1000% anuais praticados com quem procura a credora em busca de um empréstimo, e o prazo de 2 anos para a devolução.

Segundo porque a diretoria alviverde se obriga a ter mais cuidado na contratação de atletas para evitar uma catástrofe financeira. E de alguma forma isso pode ajudar o clube a não virar escravo da instituição financeira.

O Palmeiras de 2017 arrecadou – importante lembrar aos que debocham de sua autonomia – mais de meio bilhão de reais. Só o Flamengo fatura o mesmo no Brasil.

(Com informações de Rodrigo Capelo, na Revista Época)

Vitória em Ribeirão Preto ajuda a consolar a eliminação precoce na Copinha

À exceção de um curto período em meados do 1º tempo, o Palmeiras fez uma partida segura contra o Botafogo. O 1×0 ajuda a consolar a eliminação amarga e precoce na Copa São Paulo de Futebol Júnior

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Agência Estado

À exceção de um curto período em meados do 1º tempo, o Palmeiras fez uma partida segura contra o Botafogo de Ribeirão Preto, no Santa Cruz. Um pouco pelo calor escaldante, um pouco pela falta de ritmo, a vitória de hoje foi mais magra e menos convincente do que a de quinta. E olha que no final a equipe da casa abriu espaço para mais — Dudu desperdiçou duas chances claras. Borja continua tendo muitas dificuldades nos passes — falha grave para o esquema de jogo que Roger propõe –, mas o gol é importante para dar confiança para o atacante que chegou a peso de ouro da Colômbia e até agora não convenceu ninguém. Destaque para a atenção do fundamental Willian, que roubou a bola na saída desastrada de Peri e Lelê.

A vitória de hoje ajuda consolar um pouco a doída e precoce eliminação de sexta na Copa São Paulo de Futebol Júnior. Difícil falar em injustiça quando um time aguerrido como o da Portuguesa se porta como exige a história do clube e, sem qualquer interferência da arbitragem, avança invicta para as semifinais. Mas, apesar da partida ruim, o Palmeiras de 2018 merecia passar. Não só pelo desempenho na competição, que permitiu à equipe sub-20 do clube vencer com sobras todos os adversários até então, como também, e principalmente, pelo notório trabalho de renovação na base — uma demanda histórica da torcida finalmente atendida pela diretoria.

Em 2017, a base do Palmeiras conseguiu um feito inédito: chegar às finais de nada menos que 5 categorias do estadual: sub-11, 13, 15, 17 e 20. Só nesta semana já foram 5. Hoje de manhã a equipe sub-15 levantou a taça da Copa Brasil em Votorantim. 18 aletas foram convocados para diferentes equipes de base da seleção no ano passado. Paulo Victor, o treinador do sub-15, também foi comandar a amarelinha.

Os resultados em campo são consequência de uma série de medidas adotadas na Barra Funda: o aumento do número de olheiros, de 2 para 5; a criação, em 2014, da Copa Palmeiras, que reúne projetos sociais e escolinhas de futebol para garimpar novos talentos — em 2017 foram 6 (4 fora de São Paulo); e a formação de categorias de iniciação de números pares (sub-14 e 16, por exemplo). O “Manual da Base” chegou para ajudar a mapear características de atletas e orientar diretrizes para o que se espera deles.

A derrota na Copinha foi sentida, claro, porque sua conquista inédita poderia coroar todo esse processo de transformações. Mas, como seu principal objetivo é formar, não dá para dizer que o Palmeiras sai dela completamente frustrado.

Fernando, por exemplo, já deu todos os sinais de que está pronto para o profissional. Só precisa trabalhar melhor a efetividade em jogos decisivos em que o time precisa mais dele. Luan se mostrou uma excelente opção para a ala esquerda, uma das posições mais carentes do futebol mundial. José Aldo demonstrou muita personalidade atuando pelo meio e chegando diversas vezes para marcar. Anderson, que superou um problema cardiáco e voltou voando para debaixo das traves alviverdes, também tem condições de ser relacionado junto a Prass, Jailson e Weverton ou, ainda, de voltar mais maduro após um eventual empréstimo para ganhar experiência. A decepção ficou por conta de Léo Passos, artilheiro promessa do sub-20, que passou em branco durante toda competição e ainda desperdiçou um dos pênaltis na decisão contra a Lusa. O futebol brasileiro forma poucos centroavantes e esse era o principal teste de fogo para o atacante palmeirense.

O grande desafio de Roger Machado é encontrar espaço no time profissional, recheado de medalhões e pressionado por títulos, para testar algumas dessas pérolas e pagar para ver se o raio Gabriel Jesus cai pela segunda vez no mesmo lugar.

O Palmeiras segue 100% em duas rodadas no Paulistão 2018. Parece pouco, mas é a primeira sequência assim desde 2014.

Palmeiras de 2018 tem tudo para ser melhor

É evidentemente muito cedo para projetar títulos, mas o torcedor pode esperar mais do time do que no ano passado

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Fernando Dantas / Gazeta Press

O Palmeiras de 2018 tem tudo para ser melhor do que o de 2017. E são dois os fatores que, reforçados pelo desempenho de ontem na estreia do Paulistão, nos permitem chegar a essa conclusão.

Hoje o clube com o elenco mais caro do Brasil tem condições de apostar na qualidade, e não mais na quantidade, de reforços. Em 2015, quando chegou Alexandre Mattos, foram 25 — a maioria um desastre. Em 2016, 14. No ano passado, foram 12. Em 2018, além de não ter perdido até aqui nenhuma peça vital além da já esperada saída de Mina, o Palmeiras conseguiu reforçar um elenco já bastante qualificado, especialmente em setores flagrantemente deficitários, como era o caso das laterais. Todo mundo que chegou tem condições de jogar. Falta pelo menos mais um zagueiro. A despeito da falha no gol do Santo André ontem, Antônio Carlos fez uma bela atuação.

Roger Machado chegou para implementar um estilo de jogo diferente do que foi no ano passado. No jogo de ontem contra o Santo André, a formação inicial não parecia muito diferente — algo como um 4-1-4-1 –, mas o cuidado com a transição do campo defensivo para o ofensivo está visivelmente mais apurado. Felipe Melo contribui muito para isso, embora continue um tanto irresponsável em algumas entradas que servem para empolgar a torcida, mas que podem comprometer o time diante da arbitragem. Outra coisa que mudou — e que precisa continuar evoluindo — é a flutuação dos jogadores no ataque: Borja passou a maior parte do jogo aberto pela direita, com William centralizado e Lucas Lima, sem a bola atuando como uma espécie de 3º volante, com a bola chegando com agressividade pelo lado esquerdo. A ideia é confundir a defesa adversária, principalmente se ela, assustada com o plantel qualificado alviverde, investir numa marcação individual. Com Scarpa tudo tende a melhorar.

É evidentemente muito cedo para projetar títulos. O futebol brasileiro não precisa mais dar demonstrações de sua competitividade. O Corinthians de 2017 é só o exemplo mais recente do quanto planteis desacreditados podem calar críticos e encher seus torcedores de alegrias. Mas não restam dúvidas de que o torcedor palmeirense tem mais motivos hoje para ser otimista do que foi no ano passado.